6.5.10

Desconstruindo a matéria da Veja

Desconstruindo a matéria da Veja
Enviado por: "Marcio Santos" marciomsantos@gmail.com marciomsant
Qua, 5 de Mai de 2010 12:49 am


Desconstruindo ainda mais a famigerada matéria da Veja...

http://faire-savoir.info/2010/05/04/a-farra-do-jornalismo-oportunista/

R$1,99
A farra do jornalismo
oportunista?
maio
4, 2010

A revista Veja dessa semana publicou uma matéria intitulada “*A farra da
antropologia oportunista*”. Aparentemente os jornalistas Leonardo Coutinho,
Júlia de Medeiros e Igor Paulin desejavam denunciar o que seria uma espécie
de “esquema” entre ONGs internacionais, antropólogos e o Governo Federal
para extinguir a propriedade privada de imóveis rurais no Brasil através da
demarcação de terras indígenas e terras de quilombo, além da criação de
unidades de conservação.

Comento a matéria aqui sem entrar no mérito de outras questões mais
profundas, abordando dois aspectos da reportagem que são absolutamente
hediondos para os padrões de qualquer tipo de jornalismo.
A falácia

Os repórteres abrem a matéria com a seguinte afirmação:

*Áreas de preservação ecológica, reservas indígenas e supostos antigos
quilombos abarcam, hoje, 77,6% da extensão do Brasil.*

Qualquer alma com dois dedos de bom senso questionaria essa afirmação. Uma
vez que as terras indígenas correspondem a 13% da área do país, sobretudo na
região amazônica. Coloco aqui dados do Instituto Socioambiental acerca dessa
extensão:

O Brasil tem uma extensão territorial de 851.196.500 hectares, ou seja,
8.511.965 km2. As terras indígenas (TIs) somam 653 áreas, ocupando uma
extensão total de 110.500.556 hectares ( 1.105.006 km2). *Assim, 13% das
terras do país são reservados aos povos
indígenas.*

*A maior parte das TIs concentra-se na Amazônia Legal: são 409 áreas,
108.720.018 hectares, representando 21.67% do território amazônico e 98.61%
da extensão de todas as TIs do país. O restante, 1.39%, espalha-se pelas
regiões Nordeste, Sudeste, Sul e estado do Mato Grosso do
Sul.*

Agora vejamos um mapa onde essas terras estão representadas:



Digamos então, que o restante dessa porcentagem absurda levantada pelos
jornalistas, agora 64,6%, estivesse relacionado às terras de quilombo ou às
unidades de conservação. Ainda assim os números parecem não bater, já que
segundo o “Atlas da Questão Agrária
Brasileira”,
organizado pela UNESP, as áreas das unidades de conservação federais e
estaduais em 2007

totalizavam *99,7 milhões de hectares*, sendo *98 milhões referentes às
unidades de conservação em ambientes terrestres.* Dessas unidades, 310 (41,5
milhões de ha) são de proteção integral e 286 (58,2 milhões de ha) de uso
sustentável. Entre 1997 e 2007 foram criadas 251 unidades de conservação e
acrescidos 51,35 milhões de hectares de unidades em ambientes terrestres. A
distribuição territorial das unidades de conservação é desigual e a maior
parte está no bioma amazônico, que concentra 74,2 milhões de hectares –
75,7% do total.

Lembrando “o Brasil tem uma extensão territorial de 851.196.500 hectares”,
os 98 milhões de hectares, já que estamos excluindo as unidades de
conservação oceânicas, corresponderiam a aproximadamente *11,71% *do
território nacional. Boa parte dessas terras não é “improdutiva”, mas são as
chamadas “áreas de uso sustentável” que seguem regras especiais para a
exploração, como demonstra o mapa abaixo.



Então, temos 24,7 1% do Brasil dedicado a terras indígenas e unidades de
conservação, correto? Não necessariamente. Se sobrepusermos os dois mapas é
possível perceber que há sobreposição de áreas de unidades de conservação e
terras indígenas em vários pontos do país, o que diminuiria esse percentual.
Mas, vamos supor que há 24% do território nacional, sobretudo na Amazônia
Legal, dedicado a unidades de conservação e terras indígenas.



Para chegar então aos 53,6% restantes (77,6% – 24%) seria necessário que as
terras de quilombo abarcassem estrondosos 459 milhões de hectares… o que não
é verdade. Segundo a comissão Pró-Índio de São Paulo

*Em setembro de 2008, os territórios quilombolas titulados somavam 1.171.213
hectares. Até essa data, o Pará continuava como o estado com a maior
extensão titulada: 628.674,7 hectares, o que corresponde a cerca de 54% do
total já regularizado.
*

[Para os mais interessados, aqui há uma
tabelaonde estão
os nomes, localização, e área de todas as comunidades.]

Logo, temos 1.171.213 hectares em terras de quilombo tituladas, o que
corresponde a, vejam só, 0,13% do território nacional. E as maiores terras
também estão na área da Amazônia Legal – novamente desconsiderando
sobreposições com unidades de conservação.

*Com base nesses dados, a porcentagem de 77,6% alegada na reportagem da
revista Veja não se sustenta sob qualquer argumento.* Além disso, a matéria
dá a entender que basta requerer a terra para se ter acesso a ela, ou mesmo
que o governo em exercício estaria sendo uma espécie de facilitador do
processo. Isso não se sustenta no caso das terras de
quilomboe
nem das terras indígenas, uma vez que o governo em exercício demarcou
e
homologou *menos terras (em extensão e quantidade) *do que o governo
anterior!

A matemática esotérica dessa reportagem parece estar baseada numa alegação
da Senadora Kátia
Abreu,
de que “90% do território brasileiro estaria congelado e inacessível ao
‘progresso’, como terras indígenas, quilombos, parques, cidades e
infra-estrutura”.Ela
disse ter encomendado uma pesquisa junto à Embrapa que provaria a
veracidade dessa afirmação… espero que, diferente da Senadora, os
pesquisadores em questão saibam soma, subtração e porcentagem.
A fraude

A reportagem é escrita como se fosse um conto, uma peça de ficção, parte de
um panfleto, não havendo fonte citada para qualquer uma das informações
presentes. Também parece-me estranho que uma reportagem com uma denúncia tão
severa, que basicamente implica o fim da propriedade privada de imóveis
rurais no Brasil, não conte com qualquer tipo de mobilização contrária por
parte de geógrafos, agrônomos, professores ou políticos. Não haveriam
centenas de pessoas contra tamanha mudança na questão fundiária brasileira?
Essas pessoas não dariam sua opinião à Veja? Essa ausência de opiniões
contrárias parece justificada pela suposição da reportagem de que a
demarcação de terras indígenas e terras de quilombo seria parte de um
“esquema” do qual a população em geral e até setores do Estado não saberiam
– o que é absolutamente inverossímil.

A reportagem traz, no entanto, duas supostas afirmações de antropólogos
conhecidos no Brasil. Uma seria de Eduardo Viveiros de Castro, professor do
Museu Nacional, e outra de Mércio Pereira Gomes, ex-presidente da FUNAI e
professor da Universidade Federal Fluminense. *Ambos se manifestaram dizendo
que não foram entrevistados pela revista, e que esta distorceu suas
palavras.*

Reproduzo as frases aqui:

- Frase atribuída a Mércio Gomes

“*Diante desse quadro, é preciso dar um basta imediato nos processos de
demarcação*“, como já advertiu há quatro anos o antropólogo Mércio Pereira
Gomes, ex-presidente da Funai e professor da Universidade Federal
Fluminense.

- Resposta de Mércio Gomes

Denego-lhe o falso direito jornalístico de atribuir a mim uma frase
impronunciada e um sentido desvirtuante daquilo que penso sobre a questão
indígena brasileira.

- Frase atribuída a Viveiros de Castro

Casos assim escandalizam até estudiosos benevolentes, que aceitam a tese dos
“índios ressurgidos”. “*Não basta dizer que é índio para se transformar em
um deles. Só é índio quem nasce, cresce e vive num ambiente de cultura
indígena original*“, diz o antropólogo Eduardo Viveiros de Castro, do Museu
Nacional, no Rio de Janeiro.

- Resposta de Eduardo Viveiros de Castro

Na matéria “A farra da antropologia oportunista” (Veja ano 43 nº 18, de
05/05/2010), seus autores colocam em minha boca a seguinte afirmação: “Não
basta dizer que é índio para se transformar em um deles. Só é índio quem
nasce, cresce e vive num ambiente cultural original*”. Gostaria de saber
quando e a quem eu disse isso, uma vez que (1) nunca tive qualquer espécie
de contato com os responsáveis pela matéria; (2) não pronunciei em qualquer
ocasião, ou publiquei em qualquer veículo, reflexão tão grotesca, no
conteúdo como na forma.* Na verdade, a frase a mim mentirosamente atribuída
contradiz o espírito de todas declarações que já tive ocasião de fazer sobre
o tema. Assim sendo, cabe perguntar o que mais existiria de “montado” ou de
simplesmente inventado na matéria. A qual, se me permitem a opinião, achei
repugnante.


A Veja respondeu no dia 03/05/2010 afirmando

O antropólogo Eduardo Viveiros de Castro enviou a VEJA uma carta - divulgada
amplamente na internet - sobre a reportagem *“A farra antropológica
oportunista” *[sic], publicada nesta edição da revista. Na carta, Viveiros
de Castro diz: “(1) nunca tive qualquer espécie de contato com os
responsáveis pela matéria; (2) não pronunciei em qualquer ocasião, ou
publiquei em qualquer veículo, reflexão tão grotesca, no conteúdo como na
forma”.

Sua primeira afirmação não condiz com a verdade. No início de março, VEJA
fez contato com Viveiros de Castro por intermédio da assessoria de imprensa
do Museu Nacional do Rio de Janeiro, onde ele trabalha. Por meio da
assessoria, Viveiros de Castro recomendou a leitura de um artigo seu
intitulado “No Brasil todo mundo é índio, exceto quem não é”, que
expressaria sua opinião de forma sistematizada e autorizou VEJA a usar o
texto na reportagem de uma maneira sintética.

Também não condiz com a verdade a afirmação feita por Viveiros de Castro no
item (2) de sua carta. *A frase publicada por VEJA espelha opinião escrita
mais de uma vez em seu texto* (“Não é qualquer um; e não basta achar ou
dizer; só é índio, como eu disse, quem se garante” e “pode-se dizer que ser
índio é como aquilo que Lacan dizia sobre ser louco: não o é quem quer. Nem
quem simplesmente o diz. Pois só é índio quem se garante”).

O antropólogo Viveiros de Castro pode não corroborar integralmente o
conteúdo da reportagem, mas concorda, sim, como está demonstrada em sua
produção intelectual, que a autodeclaração não é critério suficiente para
que uma pessoa seja considerada indígena.

O texto em questão se encontra disponível
aquie
foi integralmente
reproduzido pela revista Veja com algumas partes negritadas que supostamente
corroborariam que o ponto de vista do pesquisador era condizente com o da
publicação.
Não entrando no mérito da interpretação do texto, é possível afirmar que
houve, no mínimo, má fé por parte do trio de jornalistas responsáveis pela
reportagem. *Não sou jornalista e não sei nada acerca da política de ética
da revista Veja, mas aspas são aspas! Se você não entrevistou alguém ou não
está fazendo uma citação ipsis litteris de um conteúdo elas não valem. Não
adianta dizer que a frase “espelha” a opinião do professor (ainda que ela
assim o fizesse), isso não torna a suposta citação menos fraudulenta.*

O professor Viveiros de Castro respondeu
novamente
:

Aos Editores da revista Veja:

Em resposta à mensagem que enviei à revista Veja no dia 01/05, denunciando a
imputação fraudulenta de declarações que me é feita na matéria “A farra da
antropologia oportunista”, o site Veja.com traz ontem uma resposta com o
título “No Brasil, todo mundo é índio, exceto quem não é”. Ali, os
responsáveis pela revista, ou pela resposta, ou, pelo jeito, por coisa
nenhuma, reincidem na manipulação e na mentira; pior, confessam cinicamente
que fabricaram a declaração a mim atribuída.

Em minha carta de protesto inicial, sublinhei dois pontos: “(1) que nunca
tive qualquer espécie de contato com os responsáveis pela matéria; (2) que
não pronunciei em qualquer ocasião, ou publiquei em qualquer veículo,
reflexão tão grotesca, no conteúdo como na forma”.

Veja contesta estes pontos com os seguintes argumentos:

(1) “Sua primeira afirmação não condiz com a verdade. No início de março,
VEJA fez contato com Viveiros de Castro por intermédio da assessoria de
imprensa do Museu Nacional do Rio de Janeiro, onde ele trabalha. Por meio da
assessoria, Viveiros de Castro recomendou a leitura de um artigo seu
intitulado “No Brasil todo mundo é índio, exceto quem não é”, que
expressaria sua opinião de forma sistematizada e autorizou VEJA a usar o
texto na reportagem de uma maneira sintética.”

Respondo: é falso. A Assessoria de Imprensa do Museu Nacional telefonou-me,
talvez no início de março (não acredito mais em nada do que a Veja afirma),
perguntando se receberia repórteres da mal-conceituada revista, a propósito
de uma matéria que estariam preparando sobre a situação dos índios no
Brasil. Respondi que não pretendia sofrer qualquer espécie de contato com
esses profissionais, visto que tenho a revista em baixíssima estima e
péssima consideração. Esclareci à Assessoria do Museu que eu tinha diversos
textos publicados sobre o assunto, cuja consulta e citação é, portanto,
livre, e que assim os repórteres, com o perdão da expressão, que se
virassem. Não “recomendei a leitura” de nada em particular; e mesmo que o
tivesse feito, não poderia ter “autorizado Veja” a usar o texto,
simplesmente porque um autor não tem tal poder sobre trabalhos seus já
publicados. Quanto à curiosa noção de que eu autorizei a revista, em
particular, a “usar de maneira sintética” esse texto, observo que, além de
isso “não condizer com a verdade”, certamente não é o caso que esse poder de
síntese de que a Veja se acha imbuída inclua a atribuição de sentenças que
não só se encontram no texto em questão, como são, ao contrário e
justamente, contraditas cabalmente por ele. A matéria de Veja cita, entre
aspas, duas frases que formam um argumento único, o qual jamais foi
enunciado por mim. Cito, para memória, a atribuição imaginária: “Não basta
dizer que é índio para se transformar em um deles. Só é índio quem nasce,
cresce e vive num ambiente cultural original” . Com isso, a revista induz
maliciosamente o leitor a pensar que (1) a declaração foi dada de viva voz
aos repórteres; (2) ela reproduz literalmente algo que disse. Duas
grosseiras inverdades.

Veja contesta o segundo ponto com o argumento:

(2) “Também não condiz com a verdade a afirmação feita por Viveiros de
Castro no item (2) de sua carta. A frase publicada por VEJA espelha opinião
escrita mais de uma vez em seu texto (“Não é qualquer um; e não basta achar
ou dizer; só é índio, como eu disse, quem se garante” e “pode-se dizer que
ser índio é como aquilo que Lacan dizia sobre ser louco: não o é quem quer.
Nem quem simplesmente o diz. Pois só é índio quem se garante”).” Ato
contínuo, a revista dá o texto na íntegra, repetindo que eu a autorizei a
usar o texto “da forma que bem entendesse”.

(Veja o link para meu texto:
http://pib.socioambiental.org/files/file/PIB_institucional/No_Brasil_todo_mundo_%C3%A9_%C3%ADndio.pdf
).

Pela ordem. Em primeiro lugar, essa resposta da revista fez desaparecer,
como num passe de mágica, a frase propriamente afirmativa de minha suposta
declaração, a saber, a segunda (Só é índio quem nasce, cresce e vive em um
ambiente cultural original”), visto que a primeira (Não basta dizer que é
índio etc.) permanece uma mera obviedade, se não for completada por um
raciocínio substantivo. Ora, o raciocínio substantivo exposto em meu texto
está nas antípodas daquele que Veja falsamente me atribui. *A afirmação de
Veja de que eu a autorizara a “usar” o texto da forma que ela “bem
entendesse” parece assim significar, para os responsáveis (ou não) pela
revista, que ela poderia fabricar declarações absurdas e depois dizer que
“sintetizavam” o texto. Esse arrogamente “da forma que bem entendesse” não
pode incluir um fazer-se de desentendido da parte da Veja.*

Reitero que a revista fabricou descaradamente a declaração “Só é indio quem
nasce, cresce e vive em um ambiente cultural original”. Se o leitor tiver o
trabalho de ler na íntegra a entrevista reproduzida em Veja.com, verá que eu
digo exatamente o contrário, a saber, que é impossível de um ponto de vista
antropológico (ou qualquer outro) determinar condições necessárias para
alguém (uma pessoa ou uma coletividade) “ser índio”. A frase falsa de Veja
põe em minha boca precisamente uma condição necessária, e, ademais, absurda.
Em meu texto sustento, ao contrário e positivamente, que é perfeitamente
possível especificar diversas condições suficientes para se assumir uma
identidade indígena. Talvez os responsáveis pela matéria não conheçam a
diferença entre condições necessárias e condições suficientes. Que voltem
aos bancos da escola.

A afirmação “só é índio quem nasce, cresce e vive em um ambiente cultural
original” é, repito, grotesca. Nenhum antropólogo que se respeite a
pronunciaria. Primeiro, porque ela enuncia uma condição impossível (o
contrário de uma condição necessária, portanto!) no mundo humano atual;
impossível, na verdade, desde que o mundo é mundo. Não existem “ambientes
culturais originais”; as culturas estão constantemente em transformação
interna e em comunicação externa, e os dois processos são, via de regra,
intimamente correlacionados. Não existe instrumento científico capaz de
detectar quando uma cultura deixa de ser “original”, nem quando um povo
deixa de ser indígena. (E quando será que uma cultura começa a ser original?
E quando é que um povo começa a ser indígena?). Ninguém vive no ambiente
cultural onde nasceu. Em segundo lugar, o “ambiente cultural original” dos
índios, admitindo-se que tal entidade exista, foi destruído meticulosamente
durante cinco séculos, por epidemias, massacres, escravização, catequese e
destruição ambiental. A seguirmos essa linha de raciocínio, não haveria mais
índios no Brasil. Talvez seja isso que Veja queria dizer. Em terceiro lugar,
a revista parte do pressuposto inteiramente injustificado de que “ser índio”
é algo que remete ao passado; algo que só se pode ou continuar (a duras
penas) a ser, ou deixar de ser. A idéia de que uma coletividade possa voltar
a ser índia é propriamente impensável pelos autores da matéria e seus
mentores intelectuais. Mas como eu lembro em minha entrevista original
deturpada por Veja, os bárbaros europeus da Idade Média voltaram a ser
romanos e gregos ali pelo século XIV — só que isso se chamou “Renascimento”
e não “farra de antropólogos oportunistas”. Como diz Marshall Sahlins, o
antropólogo de onde tirei a analogia, alguns povos têm toda a sorte do
mundo.

E o Brasil, será que temos toda a sorte do mundo? Será que o Brasil algum
dia vai se tornar mesmo um grande Estados Unidos, como quer a Veja ? Será
que teremos de viver em um ambiente cultural que não é aquele onde nascemos
e crescemos? (Eu cresci durante a ditadura; Deus me livre desse ambiente
cultural). Será que vamos deixar de ser brasileiros? Aliás, qual era mesmo
nosso ambiente cultural original?



Além disso, a reportagem dá a entender que a elaboração de relatórios
técnicos de delimitação e identificação seriam “lucrativos” para os
antropólogos. Prezados, as contas são abertas, podem verificar a modesta
quantia que é paga aos profissionais e depois se informem sobre o montante
absurdo de trabalho que é uma empreitada dessas.

Pior, faz parecer que os morosos processos de demarcação e homologação de
terras, com centenas de entraves burocráticos e judiciários seria algo quase
instantâneo, bastando que a comunidade que pleiteia o território se
“autodeclare” qualquer coisa. Os processos de homologação ou titulação
dessas terras são justamente isso: processos. São passíveis de
contraditório, anulação e etc. Em tempo: quem tem a palavra final acerca
da titulação/homologação de terras é o judiciário, não os antropólogos. O
trabalho dos antropólogos é descrever como o grupo se relaciona com a terra
que pleiteia e criar uma peça técnica onde reúne informações que vão desde
redes de parentesco até dados sobre produção agrícola e aspectos religiosos.
Esses dados compõe um documento maior, que inclui o levantamento das cadeias
dominiais das terras pleiteadas e sua situação fundiária – donde se pode
conhecer muito sobre a história da propriedade rural no Brasil…

Enfim, a mentira tem perna curta.

*PS:* os dados que apresentei acerca da extensão das terras de quilombo e
unidades de conservação não são desse ano. Usei deles porque não creio que
houve qualquer mudança significativa no total dessas áreas. De qualquer
forma, a presidência não decretou metade do Brasil em terras de quilombo e
UCs de 2007 para cá, logo os dados apresentados na Veja continuam inválidos.
Posted by Barba
Filed in antropologia
Tags: A farra da antropologia
oportunista,
antropologia , Eduardo
Viveiros de Castro,
imprensa marrom , Mércio
Gomes ,
respostas,
revista veja , terras de
quilombo , terras
indígenas

Nota da Comissão de Assuntos Indígenas (CAI/ABA)

De: gtquilombos@googlegroups.com [gtquilombos@googlegroups.com] em Nome de José Augusto Laranjeiras Sampaio [gugasampaio56@gmail.com]
Enviado: quarta-feira, 5 de maio de 2010 9:44
Para:
Cc:
Assunto: [GT Quilombos:3495] En: NOTA DA COMISSÃO DE ASSUNTOS INDÍGENAS DA ABA/Artigo Veja





NOTA DA COMISSÃO DE ASSUNTOS INDÍGENAS:

A reportagem divulgada pelo último número da revista Veja, provocativamente intitulada "Farra da Antropologia oportunista", acarretou uma ampla e profunda indignação entre os antropólogos, especialmente aqueles que pesquisam e trabalham com temas relacionados aos povos indígenas. Dados quantitativos inteiramente equivocados e fantasiosos (como o de que menos de 10% das terras estariam livres para usos econômicos, pois 90% estariam em mãos de indígenas, quilombolas e unidades ambientais!!!) conjugam-se à sistemática deformação da atuação dos antropólogos em processos administrativos e jurídicos relativos a definição de terras indígenas.
Afirmações como a de que laudos e perícias seriam encomendados pela FUNAI a antropólogos das ONG's e pagos em função do número de indígenas e terras "identificadas" (!) são obviamente falsas e irresponsáveis. As perícias são contratações realizadas pelos juízes visando subsidiar técnica e cientificamente os casos em exame, como quaisquer outras perícias usuais em procedimentos legais. Para isto o juiz seleciona currículos e se apóia na experiência da PGR e em consultas a ABA para a indicação de profissionais habilitados. Quando a FUNAI seleciona antropólogos para trabalhos antropológicos o faz seguindo os procedimentos e cautelas da administração pública. Os profissionais que realizam tais tarefas foram todos formados e treinados nas universidades e programas de pós-graduação existentes no país, como parte integrante do sistema brasileiro de ciência e tecnologia. A imagem que a reportagem tenta criar da política indigenista como uma verdadeira terra de ninguém, ao sabor do arbítrio e das negociatas, é um absurdo completo e tem apenas por finalidade deslegitimar o direito de coletividades anteriormente subalternizadas e marginalizadas.
Não há qualquer esforço em ser analítico, em ouvir os argumentos dos que ali foram violentamente criticados e ridicularizados. A maneira insultuosa com que são referidas diversas lideranças indígenas e quilombolas, bem como truncadas as suas declarações, também surpreende e causa revolta. Sub-títulos como "os novos canibais", "macumbeiros de cocar", "teatrinho na praia", "made in Paraguai", "os carambolas", explicitam o desprezo e o preconceito com que foram tratadas tais pessoas. Enquanto nas criticas aos antropólogos raramente são mencionados nomes (possivelmente para não gerar demandas por direito de resposta), para os indígenas o tratamento ultrajante é na maioria das vezes individualizado e a pessoa agredida abertamente identificada. Algumas vezes até isto vem acompanhado de foto.
A linguagem utilizada é unicamente acusatória, servindo-se extensamente da chacota, da difamação e do desrespeito. As diversas situações abordadas foram tratadas com extrema superficialidade, as descrições de fatos assim como a colocação de adjetivos ocorreram sempre de modo totalmente genérico e descontextualizado, sem qualquer indicação de fontes. Um dos antropólogos citado como supostamente endossando o ponto de vista dos autores da reportagem afirmou taxativamente que não concorda e jamais disse o que a revista lhe atribuiu, considerando a matéria "repugnante". O outro, que foi presidente da FUNAI por 4 anos, critica duramente a matéria e destaca igualmente que a citação dele feita corresponde a "uma frase impronunciada" e de "sentido desvirtuante" de sua própria visão.
A agressão sofrida pelos antropólogos não é de maneira alguma nova nem os personagens envolvidos são desconhecidos, isto apenas considerando os últimos anos. O antropólogo Stephen Baines em 2006 concedeu uma longa entrevista a Veja sobre os índios Waimiri-Atroari, população sobre a qual escrevera anos antes sua tese de doutoramento. A matéria não saiu, mas poucos meses depois, uma reportagem intitulada "Os Falsos Índios", publicada em 29 de março de 2006, defendendo claramente os interesses das grandes mineradoras e empresas hidroelétricas em terras indígenas, inverteu de maneira grosseira as declarações do antropólogo (pg. 87). Apesar dos insistentes pedidos do antropólogo para retificação, sua carta de esclarecimento jamais foi publicada pela revista. O autor da entrevista não publicada e da reportagem era o sr. Leonardo Coutinho, um dos autores da matéria divulgada na última semana pelo mesmo meio de comunicação.
Em 14-03-2007, na edição 1999, entre as pgs. 56 e 58, uma nova invectiva contra os indígenas foi realizada pela Veja, agora visando o povo Guarani e tendo como título "Made in Paraguai - A Funai tenta demarcar área de Santa Catarina para índios paraguaios, enquanto os do Brasil morrem de fome". O autor era José Edward, parceiro de Leonardo Coutinho, na matéria citada no parágrafo anterior. Curiosamente um sub-título foi repetido na matéria da semana passada - "Made In Paraguay". O então presidente da ABA, Luis Roberto Cardoso de Oliveira, solicitou o direito de resposta e encaminhou um texto à revista, que nem sequer lhe respondeu.
Poucos meses depois a revista Veja, em sua edição 2021, voltou à carga com grande sensacionalismo. A matéria de 15-08-2007 era intitulada "Crimes na Floresta – Muitas tribos brasileiras ainda matam crianças e a Funai nada faz para impedir o infanticídio" ( pgs. 104-106). O sub-título diz explicitamente que o infanticídio não teria sido abandonado pelos indígenas em razão do "apoio de antropólogos e a tolerância da Funai." A matéria novamente foi assinada pelo mesmo Leonardo Coutinho. Novamente o protesto da ABA foi ignorado pela revista e pode circular apenas através do site da entidade.
Em suma, jornalismo opinativo não pode significar um exercício impune da mentira nem práticas sistemáticas de detratação sem admissão de direito de resposta. O mérito de uma opinião decorre de informação qualificada, de isenção e equilíbrio. Ao menos no que concerne aos indígenas as matérias elaboradas pela Veja, apenas requentam informações velhas, descontextualizadas e superficiais, assumindo as características de uma campanha, orquestrada sempre pelos mesmos figurantes, que procuram pela reiteração inculcar posturas preconceituosas na opinião pública.
Numa análise minuciosa desta revista, realizada em seu site, o jornalista Luis Nassif fala de uma perigosa proximidade entre lobistas e repórteres nas revistas classificadas como do estilo "neocon". A presença de "reporteres de dossier" é uma outra característica deste tipo de revista. A luz dos comentários deste conceituado jornalista a lista de situações onde a condição de indígenas é sistematicamente questionada não deixa de ser bastante significativa. Ai aparecem os Anacés, que vivem no município de São Gonçalo do Amarante (onde está o porto de Pecem, no Ceará); os Guarani-M'bià, confrontados por uma proposta do mega-investidor Eike Batista de construção de um grande porto em Peruíbe, São Paulo; e os mesmos Guaranis de Morro dos Cavalos (SC), que lutam contra interesses poderosos, que os qualificam como "paraguaios" (tal como os seus parentes Kayowá e Nandevá do Mato Grosso do Sul, em confronto com o agro-negócio pelo reconhecimento de suas terras).
Como o objetivo último é enfraquecer os direitos indígenas (em disputas concretas com interesses privados), os alvos centrais destes ataques tornam-se os antropólogos, os líderes indígenas e os seus aliados (a matéria cita o Conselho Indigenista Missionário/CIMI por várias vezes e sempre de forma igualmente desrespeitosa e inadequada).
É neste sentido que a CAI vem expressar sua posição quanto a necessidade de uma responsabilização legal dos praticantes de tal jornalismo, processando-os por danos morais e difamação. Neste momento a Presidência da ABA está em contato com seus assessores no campo jurídico visando definir a estratégia processual de intervenção a seguir.
Dada a assimetria de recursos existentes, contamos com a mobilização dos antropólogos e de todos que se preocupam com a defesa dos direitos indígenas para, através de sites, listas na Internet, discussões e publicações variadas, vir a contribuir para o esclarecimento da opinião pública, anulando a ação nefasta das matérias mentirosas acima mencionadas. Que não devem ser vistas como episódios isolados, mas como manifestações de um poder abusivo que pretende inviabilizar o cumprimento de direitos constitucionais, abafando as vozes das coletividades subalternizadas e cerceando o livre debate e a reflexão dos cidadãos. No que toca aos indígenas em especial a Veja tem exercitado com inteira impunidade o direito de desinformar a opinião pública, realimentar velhos estigmas e preconceitos, e inculcar argumentos de encomenda que não resistem a qualquer exame ou discussão.

João Pacheco de Oliveira
Coordenador da Comissão de Assuntos Indígenas/CAI

Nota da Diretoria da ABA sobre matéria publicada pela revista Veja

Nota da Diretoria da ABA sobre matéria publicada pela revista Veja (Veja ano 43 nº 18, de 05/05/2010)
Frente á publicação de matéria intitulada "A farra da antropologia oportunista" (Veja ano 43 nº 18, de 05/05/2010), a diretoria da Associação Brasileira de Antropologia (ABA), em nome de seus associados, clama pelo exercício de jornalismo responsável, exigindo respeito à atuação profissional do quadro de antropólogos disponível no Brasil, formados pelos mais rigorosos cânones científicos e regidos por estritas diretrizes éticas, teóricas, epistemológicas e metodológicas, reconhecidas internacionalmente e avaliadas por pares da mais elevada estatura cientifica, bem como por autoridades de áreas afins.
A ABA reserva-se ao direito de exigir dos editores da revista semanal Veja que publique matéria em desagravo pelo desrespeito generalizado aos profissionais e acadêmicos da área.

4.5.10

Belo Monte: "A Funai deveria tomar iniciativa e defender os direitos indígenas", afirma antropólogo

Belo Monte: "A Funai deveria tomar iniciativa e defender os direitos indígenas", afirma antropólogo - 03/05/2010

Local: São Paulo - SP
Fonte: Amazonia.org.br
Link: http://www.amazonia.org.br


Fabíola Munhoz

Em entrevista ao site Amazonia.org.br, o antropólogo, integrante da Associação Brasileira de Antropologia (ABA), João Pacheco de Oliveira, explica porque a entidade é contra a forma como vem sendo conduzido, pelo governo federal, o projeto de construir a usina hidrelétrica de Belo Monte, no rio Xingu (PA).

Para o professor, o processo de autorização da obra tem se realizado com pressa excessiva e sem o devido diálogo com os povos indígenas, para a chegada a um consenso sobre a definição de medidas compensatórias aos impactos que o empreendimento trará a essas populações. Ele, em parte, responsabiliza a Fundação Nacional do Índio (Funai) por essa falta de consulta aos índios. Confira a conversa com o antropólogo.

Amazonia.org.br- Por que a ABA se preocupa com o projeto de Belo Monte?

João Pacheco de Oliveira- A ABA tem uma tradição de se posicionar com relação a projetos de lei ou ações que possam ser prejudiciais aos direitos indígenas. A associação faz isso há mais de 20 ou 30 anos, por meio de uma Comissão de Assuntos Indígenas. Nós temos feito manifestações à opinião pública, às autoridades, recomendando, no caso em que a gente percebe que os índios poderão ser prejudicados, algum rumo de ação.

Amazonia.org.br- Em que aspectos a obra traria riscos aos direitos indígenas?

Oliveira- Nós não temos propriamente um estudo mais circunstanciado, feito pela ABA, sobre essas questões. A associação também não chegou a organizar uma comissão para tratar especificamente o assunto. Mas, isso não impede que a gente ache que o projeto está sendo tocado com uma pressa inadequada e sem avaliações, que conviria existirem. A Constituição Federal fala sobre isso, é importante haver um ponto de vista indígena, uma negociação com os indígenas, um acordo do ponto de vista desses povos. E a gente tem visto ações, pela mídia, ou recebemos manifestações, como a do cacique Megaron, de profunda insatisfação com relação à obra.

Existem também antropólogos e ambientalistas próximos à questão que tem manifestado grandes preocupações sobre a repercussão disso. Eles acham que o projeto deveria ser fortemente revisto, em relação aos grupos atingidos, e em relação a se cumprir requisitos técnicos necessários. Acho que um empreendimento dessa monta só deve ser realizado desde que haja um consenso entre vários estudos científicos, entre várias análises, e que haja uma aceitação por parte dos atores sociais envolvidos diretamente, o que, a nosso ver, não está configurado.

Amazonia.org.br: Quando fala sobre a falta de negociação com os índios, o senhor se refere ao desrespeito à Convenção 169 da Organização Internacional do Trabalho (OIT)?

Oliveira- De fato, deve haver essa consulta. A convenção foi aceita pelo governo brasileiro e tem gerado normas de atuação da cooperação internacional, do Banco Mundial, ações da Funai, do Ministério do Meio Ambiente, têm sempre que possível respeitado esse dispositivo, do consenso informado, da consulta esclarecida. Esses são princípios básicos de uma administração pública contemporânea. Não é possível esquecer isso e começar a agir de um modo extremamente acelerado.

Amazonia.org.br- Durante a análise dos impactos de Belo Monte, faltaram estudos antropológicos na região que será atingida pela obra?

Oliveira- Acho que, em combinação com os estudos ambientais, seria recomendado. Se o governo realmente resolver adotar uma política mais adequada em relação a isso, estudos mais acurados poderiam ser feitos. O governo não deveria ver isso como o direito de reclamar, não é isso. O que está se buscando é uma medida de bom senso em relação à proteção dos direitos dos cidadãos da Amazônia e dos direitos constitucionais brasileiros. Não é uma questão de teimosia de grupos ecologistas, antropólogos ou índios. É uma questão do cumprimento das normas e de uma boa política. Essa é uma obra de grande envergadura, e não pode começar a ser feita sem que haja todos os estudos e sejam levantadas as várias possibilidades, de maneira que haja mitigação de qualquer efeito que possa ser levantado por essas ações. É correto que tais ações só sejam iniciadas quando todos os estudos necessários estiverem concluídos, prevendo indenizações, mitigações, resolvendo os direitos das pessoas atingidas, e não sem que isso esteja resolvido, como na situação atual.

Amazonia.org.br- Quais serão os impactos de Belo Monte à cultura dos indígenas, já que muitos terão atividades tradicionais, como a pesca e a navegação, prejudicadas pela barragem?

Oliveira- Naturalmente, um empreendimento dessa natureza deve ter pressão sobre a organização social, a cultura, os rituais, o modo de pensar dos índios. Exatamente por isso a gente acha que deve haver cautela, cuidado, para que não se dê uma ação deletéria, exclusiva, mas que possa até ser feita uma ação em eventual benefício ao próprio grupo atingido. Afinal, se o grupo vai abrir mão de determinados controles que ele exerce sobre o meio ambiente, não o fará certamente para ser prejudicado, mas sim, para receber coisas que ele considera como compensações, que o permitam não sofrer perdas culturais e sociais significativas.

Amazonia.org.br- Diante das atitudes recentes do governo Lula, pode-se dizer que ele não tem demonstrado preocupação com a conservação da riqueza cultural indígena?

Oliveira- Eu acho que é difícil avaliar o governo como um todo. Do ponto de vista sociológico, pensamos em grupos de atuação. No caso da política indigenista, acho que os canais do órgão oficial, da Funai, estão meio limitados, e por isso não fazem o que deveria ser o papel deles. O órgão deveria estar, nesse caso, mediando a situação, conversando com os índios, tentando produzir esses estudos, discutindo com a sociedade civil e com pesquisadores, gerando soluções. Mas, não vejo a Funai nessa posição de tomar iniciativas. Acho que ela está numa postura defensiva. E deveria ser o contrário. A Funai deveria tomar iniciativas, defender os direitos indígenas, realizar estudos, negociar com a sociedade civil e os índios soluções adequadas e de consenso. Mas, se a fundação não dispõe dessa credibilidade, ou dessa estrutura de legitimidade do ponto de vista dos índios, fica mais difícil para ela fazer essa ação. E tem havido manifestações de lideranças indígenas de várias partes do Brasil bastante críticas com relação à atuação da Funai.

Então, o momento exigiria bastante cautela. Se o governo não possui um bom negociador na área indigenista, é melhor ele de certa forma botar suas barbas de molho para não ter um prejuízo político de grande envergadura, que seja resultante de uma ação antipopular, que vai trazer danos à população, e pode ser extremamente politizada num ano de disputa eleitoral.

Amazonia.org.br- Essa postura da Funai pode ser reflexo de uma imposição das decisões do governo federal sobre o modo de agir do órgão, como se tem observado em relação ao Ibama?

Oliveira- Eu acho que há diferença entre os estudos que foram feitos pelos técnicos da Funai e a posição que foi adotada somente pelo órgão, que é de perfilhamento com a posição geral do governo. A função de quem exerce uma tarefa técnica na Funai não é a mesma de cargos políticos, diplomáticos. Ela exige alertar o governo para os riscos que estão sendo corridos, com relação aos impactos reais do projeto e também com relação à polarização da opinião pública sobre isso. Para ter havido tantas matérias na última semana sobre Belo Monte, seria bom o governo reavaliar se ele está mesmo avançando em termos de popularidade, ou simplesmente se desgastando numa questão que parece, para a opinião pública, como a luta entre Golias e Davi.

Amazonia.org.br- A mobilização alcançada pelos indígenas contra Belo Monte representa um marco do poder de organização desses povos na luta pelos seus direitos?

Oliveira- Eu acho que não é tanto assim. Nós passamos no ano passado uma questão extremamente importante, que foi Raposa Serra do Sol [terra indígena de Roraima], situação resolvida ao final, com a homologação do território e atuação firme e eficiente do governo, no sentido de assegurar os direitos indígenas. Essa relação foi mais paradigmática, em termos da relação entre os povos indígenas e o governo brasileiro, porque envolvia repensar todo o processo de demarcação de terras indígenas, a participação de organismos estaduais, do Congresso Nacional e da Justiça. De certa maneira, todas as terras indígenas, não só Raposa Serra do Sol, a partir dessa decisão do Supremo Tribunal Federal [determinando a demarcação de Raposa Serra do Sol em terras contínuas], estavam em discussão também.

(Fonte: http://www.amazonia.org.br/noticias/noticia.cfm?id=353592, acesso em 04.maio.2010).

Réplica à confissão de fraude de Veja

From: E Viveiros de Castro
Date: 4 May 2010 10:01:44 GMT-03:00
To: veja@abril.com. br
Subject: Réplica à confissão de fraude de Veja

Aos Editores da revista Veja:

Em resposta à mensagem que enviei à revista Veja no dia 01/05, denunciando a imputação fraudulenta de declarações que me é feita na matéria "A farra da antropologia oportunista" , o site Veja.com traz ontem uma resposta com o título "No Brasil, todo mundo é índio, exceto quem não é". Ali, os responsáveis pela revista, ou pela resposta, ou, pelo jeito, por coisa nenhuma, reincidem na manipulação e na mentira; pior, confessam cinicamente que fabricaram a declaração a mim atribuída.

Em minha carta de protesto inicial, sublinhei dois pontos: "(1) que nunca tive qualquer espécie de contato com os responsáveis pela matéria; (2) que não pronunciei em qualquer ocasião, ou publiquei em qualquer veículo, reflexão tão grotesca, no conteúdo como na forma".

Veja contesta estes pontos com os seguintes argumentos:

(1) "Sua primeira afirmação não condiz com a verdade. No início de março, VEJA fez contato com Viveiros de Castro por intermédio da assessoria de imprensa do Museu Nacional do Rio de Janeiro, onde ele trabalha. Por meio da assessoria, Viveiros de Castro recomendou a leitura de um artigo seu intitulado "No Brasil todo mundo é índio, exceto quem não é", que expressaria sua opinião de forma sistematizada e autorizou VEJA a usar o texto na reportagem de uma maneira sintética."

Respondo: é falso. A Assessoria de Imprensa do Museu Nacional telefonou-me, talvez no início de março (não acredito mais em nada do que a Veja afirma), perguntando se receberia repórteres da mal-conceituada revista, a propósito de uma matéria que estariam preparando sobre a situação dos índios no Brasil. Respondi que não pretendia sofrer qualquer espécie de contato com esses profissionais, visto que tenho a revista em baixíssima estima e péssima consideração. Esclareci à Assessoria do Museu que eu tinha diversos textos publicados sobre o assunto, cuja consulta e citação é, portanto, livre, e que assim os repórteres, com o perdão da expressão, que se virassem. Não "recomendei a leitura" de nada em particular; e mesmo que o tivesse feito, não poderia ter "autorizado Veja" a usar o texto, simplesmente porque um autor não tem tal poder sobre trabalhos seus já publicados. Quanto à curiosa noção de que eu autorizei a revista, em particular, a "usar de maneira sintética" esse texto, observo que, além de isso "não condizer com a verdade", certamente não é o caso que esse poder de síntese de que a Veja se acha imbuída inclua a atribuição de sentenças que não só se encontram no texto em questão, como são, ao contrário e justamente, contraditas cabalmente por ele. A matéria de Veja cita, entre aspas, duas frases que formam um argumento único, o qual jamais foi enunciado por mim. Cito, para memória, a atribuição imaginária: "Não basta dizer que é índio para se transformar em um deles. Só é índio quem nasce, cresce e vive num ambiente cultural original" . Com isso, a revista induz maliciosamente o leitor a pensar que (1) a declaração foi dada de viva voz aos repórteres; (2) ela reproduz literalmente algo que disse. Duas grosseiras inverdades.

Veja contesta o segundo ponto com o argumento:

(2) "Também não condiz com a verdade a afirmação feita por Viveiros de Castro no item (2) de sua carta. A frase publicada por VEJA espelha opinião escrita mais de uma vez em seu texto ("Não é qualquer um; e não basta achar ou dizer; só é índio, como eu disse, quem se garante" e "pode-se dizer que ser índio é como aquilo que Lacan dizia sobre ser louco: não o é quem quer. Nem quem simplesmente o diz. Pois só é índio quem se garante")." Ato contínuo, a revista dá o texto na íntegra, repetindo que eu a autorizei a usar o texto "da forma que bem entendesse".

(Veja o link para meu texto: http://pib.socioamb iental.org/ files/file/ PIB_instituciona l/No_Brasil_ todo_mundo_ %C3%A9_%C3% ADndio.pdf).

Pela ordem. Em primeiro lugar, essa resposta da revista fez desaparecer, como num passe de mágica, a frase propriamente afirmativa de minha suposta declaração, a saber, a segunda (Só é índio quem nasce, cresce e vive em um ambiente cultural original"), visto que a primeira (Não basta dizer que é índio etc.) permanece uma mera obviedade, se não for completada por um raciocínio substantivo. Ora, o raciocínio substantivo exposto em meu texto está nas antípodas daquele que Veja falsamente me atribui. A afirmação de Veja de que eu a autorizara a "usar" o texto da forma que ela "bem entendesse" parece assim significar, para os responsáveis (ou não) pela revista, que ela poderia fabricar declarações absurdas e depois dizer que "sintetizavam" o texto. Esse arrogamente "da forma que bem entendesse" não pode incluir um fazer-se de desentendido da parte da Veja.

Reitero que a revista fabricou descaradamente a declaração "Só é indio quem nasce, cresce e vive em um ambiente cultural original". Se o leitor tiver o trabalho de ler na íntegra a entrevista reproduzida em Veja.com, verá que eu digo exatamente o contrário, a saber, que é impossível de um ponto de vista antropológico (ou qualquer outro) determinar condições necessárias para alguém (uma pessoa ou uma coletivdade) "ser índio". A frase falsa de Veja põe em minha boca precisamente uma condição necessária, e, ademais, absurda. Em meu texto sustento, ao contrário e positivamente, que é perfeitamente possível especificar diversas condições suficientes para se assumir uma identidade indígena. Talvez os responsáveis pela matéria não conheçam a diferença entre condições necessárias e condições suficientes. Que voltem aos bancos da escola.

A afirmação "só é índio quem nasce, cresce e vive em um ambiente cultural original" é, repito, grotesca. Nenhum antropólogo que se respeite a pronunciaria. Primeiro, porque ela enuncia uma condição impossível (o contrário de uma condição necessária, portanto!) no mundo humano atual; impossível, na verdade, desde que o mundo é mundo. Não existem "ambientes culturais originais"; as culturas estão constantemente em transformação interna e em comunicação externa, e os dois processos são, via de regra, intimamente correlacionados. Não existe instrumento científico capaz de detectar quando uma cultura deixa de ser "original", nem quando um povo deixa de ser indígena. (E quando será que uma cultura começa a ser original? E quando é que um povo começa a ser indígena?). Ninguém vive no ambiente cultural onde nasceu. Em segundo lugar, o "ambiente cultural original" dos índios, admitindo-se que tal entidade exista, foi destruido meticulosamente durante cinco séculos, por epidemias, massacres, escravização, catequese e destruição ambiental. A seguirmos essa linha de raciocínio, não haveria mais índios no Brasil. Talvez seja isso que Veja queria dizer. Em terceiro lugar, a revista parte do pressuposto inteiramente injustificado de que "ser índio" é algo que remete ao passado; algo que só se pode ou continuar (a duras penas) a ser, ou deixar de ser. A idéia de que uma coletividade possa voltar a ser índia é propriamente impensável pelos autores da matéria e seus mentores intelectuais. Mas como eu lembro em minha entrevista original deturpada por Veja, os bárbaros europeus da Idade Média voltaram a ser romanos e gregos ali pelo século XIV -- só que isso se chamou "Renascimento" e não "farra de antropólogos oportunistas" . Como diz Marshall Sahlins, o antropólogo de onde tirei a analogia, alguns povos têm toda a sorte do mundo.

E o Brasil, será que temos toda a sorte do mundo? Será que o Brasil algum dia vai se tornar mesmo um grande Estados Unidos, como quer a Veja ? Será que teremos de viver em um ambiente cultural que não é aquele onde nascemos e crescemos? (Eu cresci durante a ditadura; Deus me livre desse ambiente cultural). Será que vamos deixar de ser brasileiros? Aliás, qual era mesmo nosso ambiente cultural original?

Grato mais uma vez pela atenção

Eduardo Viveiros de Castro
antropólogo - UFRJ

"Os Espertalhões e a Veja", Kelly Oliveira

-----Mensagem original-----
De: "kelly"
Para: nepe@yahoogrupos.com.br
Data: Segunda, 03 de Maio de 2010 04:08
Assunto: [nepe] Os Espertalhões e a Veja - A Farra da Antropologia Oportunista


Os Espertalhões e a Veja

Acabei de ler o artigo da veja "A Farra da Antropologia Oportunista" e fiquei estarrecida com a forma bem articulada e ordenada de encobrir verdades, explicitar
meias palavras e escancarar depoimentos – escolhidos a dedo – de supostas autoridades discursivas.

Como antropóloga e jornalista percebo, como muitos de vocês, o caráter declaradamente parcial da linha editorial da revista, que de fato não pretende se
apresentar
como um meio de comunicação que ponha em discussão os dois ou mais lados de uma questão. Sua pretensão é a da formação de opinião a partir de um
posicionamento parcial,
enfático e carregado de uma expressividade de "dona da verdade", baseada na longa data de existência e, para grande parte do público que a lê, na suposta
seriedade
de seus artigos – já que não podemos chamar de matéria jornalística escritos tão escancaradamente opinativos como os deste periódico.

Até aí nada de errado, já que a revista se declara abertamente opinativa, não escondendo portanto sua parcialidade. Escrevo, no entanto, a fim de percebermos
a forma
como a revista pega cada uma das informações e cuidadosamente as seleciona para ir além da opinião e distorcer, omitir e comprometer o posicionamento ético
que supostamente
acalenta. Começando com as autoridades discursivas citadas – Mércio Pereira Gomes e Eduardo Viveiros de Castro – que demonstram um olhar não só reconhecidamente
parcial com relação ao processo de fortalecimento de identidades étnicas no país, como tiveram suas frases escolhidas a dedo para corroborar com uma perspectiva
de "originalidade cultural" e de deslegitimação do processo de regularização de territórios indígenas – se é que foram mesmo frases deles, pois o
Viveiros de Castro
já desmentiu a presença de qualquer fala sua no artigo.

Por outro lado, o artigo explicita meias verdades, ao citar no box "índio bom é índio pobre", o caso de um grupo que, por "culpa" da Funai, teria perdido a
oportunidade
de vender seu território, em troca de 1 milhão de reais para cada família. Ora, sabemos que, por lei as terras indígenas são propriedade da União e de
posse coletiva
dos Guarani, sendo inalienáveis, o que evidentemente – mas não tão evidentemente no artigo – impossibilita qualquer tipo de negociação. Por outro lado,
ficou explícita
a perspectiva preconceituosa como foi caracterizada a liderança do grupo, que segundo a revista é "casada com um caminhoneiro (branco), tem carro, tv, computador,
faz compras no supermercado" – fiquei pensando se ela seria mais poupada se fizesse compras em alguma vendinha local.

São tantas as meias verdades, que parece difícil numerar todas. Temos, por exemplo, o momento em que são citados os Anacé (CE), como grupo que faz macumba
por achar
que seria indígena, o que o artigo trata de declarar como um erro, já que se trataria de um "culto africano". Omitindo, de forma perspicaz, o fato de que os
grupos
indígenas ao longo dos anos não viveram envoltos em uma bolha cultural, mas estabeleceram relações – de forma enfática naquela região – com populações
de origem
africana, do que derivaram formas culturais ampliadas, englobando a realidade religiosa dessas pessoas.

Curiosamente, ao citar os laudos antropológicos, segundo a Veja elaborados "sem nenhum rigor científico e com claro teor ideológico de uma esquerda que ainda
insiste
em extinguir o capitalismo, imobilizando terras para a produção", se depõe de forma criminosa – que seria melhor ressaltada através de um processo movido
pela ABA
– contra o trabalho de profissionais que têm no rigor científico sua base de ação, desmerecendo processos reflexivos multidisciplinares, que vão além
da antropologia,
englobando saberes não só das ciências sociais, como também históricos, geográficos, ambientais e jurídicos, para citar apenas algumas das disciplinas
envolvidas
na feição do documento.

Os ataques foram bem alimentados com informações cuidadosamente embaralhadas – como a de englobar em um mesmo percentual (77,6%) as terras indígenas, quilombolas,
assentamentos e reservas florestais, como de áreas improdutivas (e o montante sobe para 90,6% quando incluem cidades e infraestrutura). Fiquei me perguntando o
que,
afinal, seria o que o artigo chama de "território para produção e desenvolvimento". Porque produtivas as terras indígenas, quilombolas e os assentamentos
também
são, como temos centenas de exemplos. E até mesmo em áreas de preservação, onde está crescendo a consciência de um manejo sustentável para as famílias
que tiram
seu sustento das florestas. Afinal, para quem se geraria renda com o que foi definido como "agronegócio" pela veja? A grandes conglomerados empresariais? A mega
empresários que pouco ou nada trazem em troca para o país, além de seus nomes divulgados na lista dos mais ricos do mundo (e o que afinal isso contribui para
a vida
dos brasileiros???)

A Veja parte de uma imoralidade ética e ofensiva não só às comunidades tradicionais, antropólogos e indigenistas como também ao próprio jornalismo.
Um olhar preconceituoso,
tanto do que seria as comunidades tradicionais e assentados rurais quanto da perspectiva de desenvolvimento, que pelo que pude ver se refere a uma visão elitista
e antiquada, destinada a negócios que gerem renda para a pequena parcela de privilegiados economicamente. Desmerecendo inclusive a crescente onda de valorização
pela comunidade internacional do trabalho familiar e do comércio responsável, que incentiva a produção local e o manejo tradicional de recursos naturais.

Beira a vergonha a forma escancarada como se ataca os personagens apresentados na matéria, e como se transforma uma reivindicação que, evidentemente, tem também
seu caráter político, em uma estratégia de "espertalhões", para se apossarem de terras que poderiam estar nas mãos produtivas do "agronegócio". Uma jogada
de mestre
desta revista, que transforma a reivindicação de grupos tradicionais em um simples jogo por dinheiro, e que coloca os "cidadãos brasileiros" como vítimas
de índios,
quilombolas e assentados – que, pelo visto, não são brasileiros, e muito menos cidadãos.

Kelly Oliveira

Resposta de Mércio à Revista Veja

De: marcela purini Belem [mailto:mpurini@hotmail.com]
Enviada em: segunda-feira, 3 de maio de 2010 17:02
Para: ant-bra@lists.uchicago.edu
Assunto: [Ant-Bra] Resposta a Veja do antropólogo Mércio Pereira Gomes ex-presidente da Funai

Do Blog do Mércio

Resposta à matéria da VEJA “A farra da antropologia oportunista”

Mais uma vez a revista VEJA traz em suas páginas matéria cheia de injúrias aos povos indígenas brasileiros.
Não pode passar despercebido ao mais desavisado e ingênuo leitor dessa revista o ranço, o azedume de preconceitos e vícios jornalísticos apresentados sobre a questão indígena brasileira. Porém a factualidade do texto também está comprometida por desvirtuamentos de pesquisa, compreensão e análise que certamente intencionam provocar uma impressão extremamente negativa da questão indígena em nosso país.
Os autores da matéria “A farra da antropologia oportunista”, ao que tudo indica jornalistas jejunos no trato de tais assuntos, parecem perseguir uma linha editorial ou um estilo jornalístico em que a busca de objetividade possível é relegada ao interesse ideológico de denegrir as conquistas dos segmentos mais oprimidos do povo brasileiro e demonstrar o seu favorecimento aos poderosos da nação. Primam por um estilo sardônico, próprio de jornalistas que fazem de seu ofício a defesa inquestionável do status quo social e econômico brasileiro, aludem a supostos fatos a partir de evidências descontextualizadas e apresentam citações sem a mínima preocupação com comprovação.
Falta-lhes sobretudo compreensão histórica da questão indígena brasileira, do papel da antropologia e da condição contemporânea da ascensão dos povos indígenas no Brasil e no mundo. Empatia às causas populares e gestos positivos em relação à ascensão das camadas sociais mais oprimidas da nação são atitudes ausentes nesse tipo de jornalismo.
Ao contrário, estão do lado dos que consideram a nação um quintal a ser usado (e abusado) ao seu bel prazer. Um repertório acanhado, porém virulento, de asserções deslocadas do processo histórico tenciona incutir no leitor uma visão de que os povos indígenas – e também os descendentes de quilombolas – estão aí para surrupiar as riquezas da nação dos destemidos fazendeiros, madeireiros, mineradores e empreiteiros da nação. A continuar esse processo não sobrarão terras nem riquezas naturais para a continuada exploração econômica da nação!
Os antropólogos estariam a serviço de uma espécie de subversão da realidade empírica, afeitos à criação imaginativa de identidades étnicas e dispostos a reverter o processo histórico nacional. Nem os mais afoitos de nós sonham com tamanho poder!
Já os índios e quilombolas estão em marcha guerreira para varrer do país aqueles que dariam sustento e sentido à nação.
É demais.
Apresento aqui o meu repúdio a esse tipo de jornalismo.
Denego-lhe o falso direito jornalístico de atribuir a mim uma frase impronunciada e um sentido desvirtuante daquilo que penso sobre a questão indígena brasileira.
Portanto, conclamo os editores da VEJA a rever sua visão miópica e estigmatizada do processo histórico brasileiro. Fariam bem ao seus leitores se se concentrassem na busca de objetividade jornalística e numa compreensão humanista, científica e hiperdialética da história do nosso país.
Atenciosamente,
Mércio Pereira Gomes, antropólogo, professor da Universidade Federal Fluminense e ex-presidente da Funai

5.2.09

Alcântara: revisão de áreas quilombola gera atrito no governo

Publicado hoje no Jornal Estado de São Paulo

Revisão de áreas quilombolas gera atrito no governo
Pedido de Jobim à Advocacia Geral da União para que arbitre disputa com o Incra irrita ministros da área

Roldão Arruda
Tamanho do texto? A A A A
Causou mal estar no interior do governo a decisão do ministro da Defesa, Nelson Jobim, de recorrer à Advocacia Geral da União (AGU), pedindo que seja revista a demarcação de terras de quilombolas em Alcântara, no Maranhão."Estou surpreso com essa atitude ", disse ontem o ministro da Secretaria da Promoção da Igualdade Racial, Edson Santos. "Nas negociações que tivemos, não houve objeções à demarcação final da área. Isso gera inquietação junto às comunidades quilombolas e cria um desgaste desnecessário."A decisão também surpreendeu o Ministério do Desenvolvimento Agrário, ao qual está subordinado o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) - órgão responsável pela identificação e delimitação da área de 78,1 mil hectares de Alcântara destinada aos quilombolas. Na verdade, no pedido à AGU, Jobim aponta que o conflito é entre seu ministério e o Incra.Apesar da surpresa, o ministro Guilherme Cassel, do Desenvolvimento Agrário, não quis comentar o caso.No documento que enviou à AGU, no início de dezembro, o ministro Jobim pediu a instalação de uma Câmara de Conciliação para dirimir "conflitos de interesses públicos". Afirmou que a demarcação trará sérios prejuízos ao Programa Nacional de Atividades Espaciais - um dos itens prioritários da Estratégia de Defesa Nacional, divulgada em dezembro.De acordo com o Relatório Técnico de Identificação e Delimitação, produzido pelo Incra e publicado no Diário Oficial no dia 3 de dezembro, a área reservada ao programa espacial é de 8,7 mil hectares. É uma área insuficiente, segundo o ministro.Para ter sua continuidade assegurada, disse Jobim, o programa precisa que o centro de lançamento avance para a área norte de suas instalações atuais. Sem essa área, destinada aos quilombos, a empresa binacional Brasil-Ucrânia Cyclone Space não poderá desenvolver plenamente suas atividades.Pelo que foi acordado, segundo representantes dos quilombolas, a Aeronáutica cederia à binacional uma parte da área que ocupa em Alcântara. A Aeronáutica, porém, afirma que só concordou com essa decisão de forma provisória. Não aceita que seja definitiva.Em Alcântara, a divulgação da atitude do Ministério da Defesa também causou surpresa. "É preocupante: o governo firma um acordo com os quilombolas e depois diz que não vai cumpri-lo", disse ontem um dos líderes do Movimento dos Atingidos pela Base Espacial, Sérvulo Borges. "Nós vamos à Justiça defender nossos direitos. Estamos ocupando todas essas terras há mais de 200 anos. Nós é que estamos cedendo uma parte para a base - e não o contrário."As câmaras de conciliação da AGU foram criadas para resolver conflitos entre órgãos do governo. Ainda não se sabe, porém, se o pedido de Jobim será aceito pelo advogado-geral, José Antonio Dias Toffoli. Existe a possibilidade de devolver o pedido, para que seja feita nova tentativa de entendimento diretamente com o Incra.


http://www.estadao.com.br/estadaodehoje/20090205/not_imp318544,0.php

3.2.09

SEPPIR vai mediar impasse entre comunidades quilombolas e a Alcântara Cyclone Space, no Maranhão

SEPPIR vai mediar impasse entre comunidades quilombolas e a Alcântara Cyclone Space, no Maranhão

28/01/2009 - 16:36

Em reunião realizada na última segunda-feira (26/01), no Ministério Público Federal em São Luis (MA), entre técnicos da SEPPIR e o procurador Alexandre Silva Soares, ficou acertado que a Secretaria vai intermediar o impasse entre os quilombolas e a empresa binacional Alcântara Cyclone Space (ACS/ Brasil-Ucrânia) para a conclusão do Estudo de Impacto Ambiental (EIA) na região de Alcântara. O estudo é uma exigência do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), para o prosseguimento das obras realizadas dentro do limite territorial do Centro de Lançamento de Alcântara.

Por causa do impasse com as comunidades, as obras estão paralisadas desde o dia 28 de dezembro do ano passado, ameaçando o prazo para o lançamento do foguete Cyclone IV, marcado para outubro de 2010. Na semana passada o Ministério Público deu parecer contrário ao pedido de proteção judicial para que a ACS dê continuidade aos estudos ambientais nas comunidades quilombolas de Mamuna, Baracatatiua e Brito. De acordo com o procurador federal Alexandre Soares, que relatou o parecer, o ingresso de pesquisadores nas terras de comunidades tradicionais, sejam índios ou quilombolas, deve ser precedido de diálogo junto aos moradores. Neste sentido, a SEPPIR vai mediar o diálogo entre as comunidades quilombolas e a ACS.

“Vamos esclarecer os quilombolas sobre a importância deste laudo sócio-ambiental que virá, inclusive, a favorecê-los na medida em que servirá de base para a realização de outros projetos sociais para as comunidades de Alcântara. Compreendemos a importância do Programa Espacial Brasileiro e temos o maior interesse em colaborar para que as obras sejam realizadas no prazo, desde que a integridade física e o direito territorial dos quilombolas sejam respeitados”, explicou a diretora de projetos da Subsecretaria de Políticas para Comunidades Tradicionais (SubCom/ SEPPIR), Ivonete Carvalho.

Além da mediação deste impasse, a SEPPIR está encarregada do planejamento, execução e acompanhamento dos investimentos sociais do Governo Federal em Alcântara. A partir da demarcação das terras quilombolas, diversos ministérios poderão executar na região as ações da Agenda Social Quilombola, viabilizando acesso à saúde, educação, construção de moradias, eletrificação, recuperação ambiental, incentivo ao desenvolvimento local, e o pleno atendimento das famílias quilombolas pelos programas sociais, como o Bolsa Família.

Titulação – Em novembro do ano passado, o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA) publicou Relatório Técnico de Identificação e Delimitação (RTDI) que reconhece as comunidades quilombolas situadas no município de Alcântara (MA) e determina a delimitação de suas terras em área total pouco superior a 78 mil hectares.

 A partir da publicação, o INCRA começou a reunir os documentos necessários para a emissão dos títulos de posse coletivos, que deverão ser entregues até março deste ano às 110 comunidades quilombolas da região. Afirma o relatório que “os estudos socioeconômicos, culturais, antropológicos, fundiários, cartográficos e ambientais reconhecem que a citada comunidade se caracteriza como grupo étnico remanescente de quilombo, dotada de trajetória própria e relações territoriais específicas com presunção de ancestralidade negra relacionada com a resistência à opressão histórica sofrida, e concluem que as terras identificadas (...), com área delimitada de 78.105, 3466 ha, são consideradas como território da Comunidade Quilombola de Alcântara.”

Foguetes – O direito de uso da área reconhecida como terra quilombola estava indefinido entre as comunidades quilombolas e a Agência Espacial Brasileira, que pretendia ampliar a área dos sítios para lançamento de foguetes no entorno do Centro de Lançamento de Alcântara (CLA). Reconhecendo o inegável desenvolvimento econômico e científico que será trazido pela ampliação dos sítios, houve um entendimento coordenado a partir da Casa Civil da Presidência da República no sentido de conciliar o Programa Espacial com os direitos das comunidades quilombolas que há séculos ocupam a região. Com isso, ficou definido que os novos sítios serão instalados na área já ocupada pelo CLA. 

Coordenação de Comunicação Social da SEPPIR/ PR

 

Quilombolas retornam à terra, mas continuam sob pressão

03/02/2009

Quilombolas retornam à terra, mas continuam sob pressão

Conciliação permitiu que 31 pessoas da comunidade do Grotão retornassem a uma limitada extensão de terra de 100 hectares. Remanescentes de quilombo têm esperança que demarcação definitiva possa ampliar território tradicional

Por Jane Cavalcante

Araguaína - Depois de ter sido despejada e passar três meses alojados numa quadra esportiva em Filadélfia (TO), a comunidade quilombola do Grotão pôde retornar ao território que ocupam há cerca de 200 anos. O juiz Ricardo Damasceno de Almeida, da Vara Cível da Comarca de Filadélfia, promoveu uma conciliação que permitiu que as 31 pessoas da comunidade - entre elas uma com deficiência física, outra com deficiência mental, além de várias crianças -, retornassem a conviver com os patriarcas Raimundo José de Brito, 69 anos, e Cirilo Araújo de Brito, de 72 anos, os únicos que puderam continuar nas terras localizadas a cerca de 100 km do núcleo urbano de Filadélfia.

A conciliação entre os quilombolas e o casal que pleiteia a posse da área, Marcelo Carvalho da Silva e Daniela Sousa Carvalho da Silva, se deu mediante o processamento de uma demarcação provisória por parte do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), que estabeleceu os limites da área reduzida de 100 hectares destinada à população tradicional.

Com base no acordo firmado em 17 de dezembro de 2008, as famílias teriam apenas 15 dias, a contar da data de encerramento do trabalho dos técnicos do Incra, para refazer os barracos destruídos na violenta ação de despejo e retirar as benfeitorias das terras para além dos 100 hectares demarcados. A demarcação provisória foi concluída no dia 31 de dezembro de 2008, mas a comunidade só conseguiu chegar ao território oito dias depois, num caminhão da prefeitura de Filadélfia. Os pertences dos quilombolas foram levados no mesmo dia por um outro caminhão cedido pelo Incra. Restaram, assim, apenas sete dias para a tarefa de reconstruir e recuperar parte do que eles já haviam plantado. "Não deu tempo para arrancar a mandioca e fazer sete barracos", lamenta Maria Aparecida Gomes Rodrigues, de 30 anos, uma das lideranças do Grotão.

No retorno ao Grotão, quilombolas encontraram cenário de destruição

Não há área fértil dentro dos 100 hectares reservados provisoriamente aos quilombolas. As quatro roças de mandioca do local não foram incluídas na demarcação. Uma delas era comunitária e o prejuízo calculado chega a 250 quartas de farinha, o que equivale a 125 sacos de 60 quilos. Essa quantidade seria suficiente para dois anos de alimentação. Sem contar a interrupção do ciclo normal da agricultura e da produção (preparação do solo, plantio, colheita, torração da farinha, apuração do polvilho e da puba), que constituem a base da subsistência da comunidade.

Para amenizar as perdas, um dos itens do acordo prevê uma indenização por conta da roça comunitária, mas a parte dos recursos que cabe aos pleiteantes das terras (Marcelo Carvalho da Silva e Daniela Sousa Carvalho da Silva) não havia sido cumprida até 16 de janeiro, data final para o cumprimento das determinações do acordo para ambas as partes.

Casas foram queimadas durante ação de despejo da comunidade quilombola.

Os acessos aos riachos, tradicionalmente utilizados para pesca, e às nascentes, fontes de água potável, também ficaram de fora da conciliação judicial. Pelo acordo, os quilombolas estão impedidos de trafegar fora do perímetro delimitado pela demarcação do Incra. O juiz permitiu apenas o tráfego pela estrada que interliga a comunidade ao núcleo urbano de Filadélfia. 

A maioria das antigas moradias foi queimada e destruída na ação truculenta de reintegração de posse. Em cumprimento fiel à determinação judicial, a casa do ancião Cirilo teve que ser derrubada pela própria comunidade. Eles ainda tentaram aproveitar o barro para a construção de novas paredes e se esforçavam para garantir um forno para fazer a farinha.

"Todos os membros da família sempre viveram aqui e ainda estão todos aqui. Desde os mais velhos que já morreram e estão enterrados aqui até os outros, que nasceram aqui também", conta Cirilo. Ao relembrar o momento do despejo, Raimundo Cantuário Camilo dos Reis, esposo de Maria Aparecida, afirma que "foi a única vez que a comunidade se deslocou da região e se ausentou do local em que nasceram, se criaram e viveram até então".

No período em que ficaram na quadra esportiva de 50 m² no centro de Filadélfia, havia apenas uma torneira e, por três dias ininterruptos, faltou água. Mesmo com o retorno ao território tradicional, paira ainda um clima de incerteza, principalmente quanto ao estudo das crianças quilombolas. Segundo Maria Aparecida, as crianças eram muito discriminadas na escola da zona rural e o prefeito de Filadélfia prometeu arrumar transporte para que elas possam estudar num povoado mais próximo. A promessa, contudo, ainda não se concretizou.

Grupo de 31 pessoas vive "confinado" numa área de cerca de 100 hectares.
Pesquisa antropológica da Universidade Católica Dom Orione estima que a comunidade quilombola do Grotão habita a região há aproximadamente 200 anos. Esse estudo, porém, não foi levado em consideração no acordo judicial. Para casos de comunidades remanescentes de quilombo, é preciso que haja um estudo elaborado por um profissional credenciado pelo Incra.

A comunidade aguarda, portanto, que o Incra redefina os marcos da demarcação (para além dos 100 hectares provisórios) quando do trabalho de caráter mais definitivo. "O antropólogo do Incra já nos comunicou que estará vindo até o final deste mês de janeiro para fazer o estudo oficial e, com base no mesmo, fazer a demarcação definitiva", conta Pedro Ribeiro, da Comissão Pastoral da Terra (CPT) de Araguaína (TO), que vem acompanhando o caso.

"Confiamos que tudo vai melhorar depois da medição e do estudo do antropólogo. Nós tomamos grande prejuízo: nossas criações domésticas acabaram. Fiquei muito abalada com essa saída, mas estamos felizes por ter voltado e temos esperança de que tudo se resolva e que futuramente temos a esperança de conseguir todo nosso território de volta", diz Aparecida.

Notícia relacionada:
Quilombolas estão alojados há um mês em quadra esportiva


Fonte:
http://www.reporterbrasil.com..br/exibe.php?id=1491

18.10.08

Nossa produção por aí - Biblioteca da UFMS -
O livro "Comunidade Negra de Morro Alto. Historicidade, identidade e territorialidade", foi doado e recebido pela biblioteca central da Universidade Federal do Mato Grosso do Sul. Abraço, Cíntia Beatriz.

15.10.08

Pesquisador Vinícius Pereira de Oliveira.
Historiador Ufrgs/Unisinos

OLIVEIRA, Vinicius Pereira de. De Manoel Congo a Manoel de Paula: um africano ladino em terras meridionais. Porto Alegre/RS : EST Edições,2006 [originalmente dissertação de mestrado defendida em 2005 naUnisinos].
Resumo: Utilizando a trajetória do africano ilegalmente escravizadoManoel Congo como mote narrativo, este trabalho analisará uma série deaspectos da instituição escravista no Rio Grande do Sul da segundametade do século XIX. Ao possibilitar a articulação de experiênciaindividual e condicionamentos sociais, a vida de Manoel será acionadacomo forma de adentrar na sociedade da época.Amparada teórico-metodologicamente na proposições da micro-história efazendo uso intensivo de fontes, esta dissertação abordará temas comoorganização do tráfico atlântico de escravos e sua proibição; aocorrência de desembarque negreiro clandestino no Rio Grande do Sul; a múltiplas experiências cativas em uma área de imigração alemã; e avida dos africanos ilegalmente escravizados.Partindo de uma perspectiva que valoriza os escravos enquanto sujeitosde sua própria história, será dispensada especial atenção para osprojetos, destinos e percalços enfrentados por estes homens e mulheresna busca de ressignificar suas vidas e reafirmarem sua humanidade,negada por um sistema que os via como mercadorias.
Palavras-chave: mundo atlântico, experiência escrava, imigração alemã, "africanos livres", projetos individuais.
---**---
OLIVEIRA, Vinicius Pereira de, GAMALHO, Nola Patricia, CENTENO, LúcioDomingues, BITTENCOURT JUNIOR, Iosvaldyr Carvalho. Relatóriosócio-histórico-geográfico-antropológico de Delimitação eidentificação da Comunidade Quilombola de Palmas (Bagé/RS). INCRA-RS,2007
---**---
OLIVEIRA, Vinicius Pereira de. Diálogos entre a pesquisa histórica e amemória quilombola: um estudo sobre a Comunidade de Manoel Barbosa/RSIn: Prêmio Territórios Quilombolas 2ª Edição. Brasília: MDA, 2007
---**---
OLIVEIRA, Vinicius Pereira de, CRUZ, Cassius Marcelus, SILVA, GeraldoLuiz da, SALLES, Jefferson. Quilombo: referência de resistênica àdominação e luta pela terra no Paraná. Cadernos Temáticos/Secretariade Estado da Educação Paraná: educando para as relaçõesétnico-raciais. Curitiba:SEED-PR, 2006. (Outra produção bibliográfica)
---**---
OLIVEIRA, Vinicius Pereira de. Africanos Livres no Rio Grande do Sul:escravização e tutela. Estudos Afro-Asiáticos, 2007, no. 1-2-3,p.201-280.
Pesquisador Cristian Jobi Salaini.
Doutorando PPGAS/UFRGS
"Durante o período compreendido entre novembro de 2007 e janeiro de 2008 foram realizadas incursões em comunidades negras previamente indicadas pelo INCRA/RS e entidades do Movimento Social Negro, mas que não estão, necessariamente, mobilizando ações em prol do reconhecimento quilombola. Sendo assim, fomos às comunidades de Paris Baixo (municípios de Brochier), Morro dos Belos e São Sebastião (município de Paverama), Passo dos Negros (município de Alvorada), Morro do Chapéu (município de Três Forquilhas) e Morro do Tigre (município de Glorinha). Este trabalho possibitou a apreensão de momentos políticos distintos entre as comunidades, ampliando a reflexão sobre a conexão existente entre identidades negras coletivas e identidades quilombolas".

28.9.08


Livro:Os nomes da liberdade.
Ex-escravos na serra gaúcha no pós-abolição.
Rodrigo de Azevedo Weimer.
Biblioteca Histórica da Unisinos, (2008).

Resumo: Este trabalho tem a intenção de investigar as formas pelas quais a vida em liberdade foi construída pelos indivíduos oriundos do cativeiro, tomando como locus de observação o município de São Francisco de Paula, no nordeste do Rio Grande do Sul, durante as duas décadas finais do século XIX. Nesta localidade serrana, investiguei aspectos como moradia, relacionamento com os antigos senhores, tutela de menores, trabalho, criminalidade, engajamento militar e os nomes adotados pelos ex-cativos na vida em liberdade, como algumas vias de acesso aos complexos caminhos pelos quais se deu sua inserção, em novos parâmetros, na sociedade em que viviam.

Palavras-chave: liberdade, invisibilidade, pós-abolição, “Revolução Federalista”, nomeação